Estive no lançamento oficial do PMBOK 8 durante o PMI Global Summit 2025, em Phoenix, Arizona, e pra mim esta edição representa um marco de maturidade para a gestão de projetos. Ela não substitui o PMBOK 7 e nem retorna ao 6 — ela integra e amplia ambos, oferecendo clareza e aplicação em qualquer contexto, que seja orientado a valor.

Bernardo Zurli, vice-presidente do PMI RS
O PMBOK 7 foi uma mudança necessária, para que o paradigma da abordagem prescritiva e cascata evoluísse. Mas, gerou também dúvidas sobre como combinar os princípios e domínios com o trabalho operacional do dia a dia, que antes se tinha claro (apesar de muitos acharem burocrático). Tanto que, posteriormente ao lançamento, o PMI lançou o Guia de Processos para integrar ao guia.
O PMBOK 8 aborda esse ponto, indicando como usar o sistema de entrega de valor na prática (dia-a-dia), sem perder a adaptabilidade e visão holística em diferentes contextos.
1) O PMBOK 8 – A transição
O PMBOK 8 mantém os pilares conceituais da 7ª edição, especialmente princípios, valor e domínios, mas devolve clareza operacional ao integrar processos e áreas de foco. Não é um rollback — e sim um avanço integrador na minha opinião.
Uma das mudanças mais relevantes é a definição atualizada de Projeto. Pode parecer bobagem, mas quando na definição, colocamos a palavra ‘’valor’’, muda tudo:
“Projeto é uma iniciativa temporária, em um contexto único, realizada para criar valor.”
Essa ênfase consolida a transição da profissão: deixamos de falar apenas em escopo, prazo e custo, e passamos a medir impacto, propósito e benefício.
Relembrando, o PMBOK 7 introduziu o Sistema de Entrega de Valor, descrevendo a lógica de geração de valor na organização. O PMBOK 8 agora mostra o como aplicar:
- conecta visão, missão e estratégia, portfólio de projetos, operações e produtos
- orienta decisões com foco no que realmente cria valor.
Em síntese: a ponte entre estratégia → portfólio → execução → benefícios agora está clara.
2) Arquitetura do PMBOK 8: princípios, domínios e áreas de foco
A estrutura final combina coerência e aplicabilidade, ao juntarmos a análise desses três temas fundamentais – Princípios, Domínios e Áreas de Foco.
6 Princípios Fundamentais
- Visão holística
- Foco em valor
- Qualidade embutida
- Liderança responsável
- Sustentabilidade integrada
- Cultura empoderada
7 Domínios de Desempenho
- Governança
- Escopo
- Cronograma
- Finanças
- Partes interessadas
- Recursos
- Riscos
Os domínios agora incluem processos operacionais, permitindo visualizar o fluxo de gestão completo em cada área.
5 Áreas de Foco (antigos grupos de processos)
Voltaram como âncoras estruturantes:
- Início
- Planejamento
- Execução
- Monitoramento e Controle
- Encerramento
São organizadores flexíveis, aplicáveis em qualquer contexto. Os 49 processos agora viraram 40, integrados aos domínios e não mais com listas lineares e receitas de bolo. Funcionam como orientações práticas para quem precisa traduzir princípios em atividade.
3) O foco central: VALOR como métrica principal
O PMBOK 8, alinhado à pesquisa de Project Success conduzido pelo próprio PMI, reforça que o sucesso do projeto está em entregar valor que exceda esforço e custo. Isso se expressa em três elementos-chave:
3.1 – Estrutura Analítica de Valor (EAV / Value Breakdown Structure)
Ferramenta que conecta:
- valor desejado
- escopo do produto
- escopo do projeto (EAP)
Pra mim, essa integração será um divisor de águas para PMOs e portfólios atuantes hoje. Talvez a nova certificação do PMI que está vindo esteja, inclusive, ligada a isso. Aliás, ultimamente estão pipocando discussões sobre PMOs, VMOs e até xMOs sem que se tenha claro, por alguns, a real diferença entre essas estruturas.
3.2 – Qualidade incorporada e sustentabilidade
A sustentabilidade veio no novo PMBOK para ficar. Alinhada com a aproximação do PMI ao GPM, integra essa parte ao sistema, não em áreas isoladas. A qualidade passa a ser foco em tudo que se faz para gerar valor.
3.3 – Integração explícita da Inteligência Artificial
Abordada no apêndice 2 do guia, a IA deixa de ser tendência e passa a ser parte das práticas recomendadas, especialmente em:
- planejamento
- análise de riscos
- estimativas
- comunicação
- documentação automatizada
- apoio à decisão
4) Comparação resumida
A síntese entre as edições está mais clara:

O PMBOK 8 organiza, integra e clarifica.
5) Apêndices estratégicos
Ampliando a visão do guia, o PMBOK 8 traz alguns apêndices extremamente relevantes:
PMO
Conecta o guia de PMO lançado ano passado (2024) e mostra como o PMO se conecta ao Sistema de Entrega de Valor, à governança e aos domínios.
Inteligência Artificial
Um dos grandes avanços. Dá orientações claras sobre como usar IA em todas as etapas do ciclo de projeto, com atenção a ética, dados, qualidade e automação.
Procurement (Compras/Aquisições)
Unifica práticas de compras, contratos e fornecedores, com foco em governança, contexto, riscos contratuais e integração com os próprios domínios.
Conclusão: projetos como instrumentos de transformação
Claro que ainda preciso de tempo para estudar a fundo o novo guia. Mas, em minhas primeiras impressões, me parece que o PMBOK 8 reforça que projetos não são apenas entregas — são mecanismos estruturados para gerar valor. Ele nos posiciona como profissionais capazes de conectar estratégia, cultura, propósito e execução.
Como consultor em PMO/Portfólio de Projetos, vejo esta edição como a primeira que realmente equilibra a teoria com a prática e nos convida a evoluir como profissionais que entregam valor, e não apenas gerentes de atividades e fiscais de avanço.
Autor: Bernardo Zurli Barreira – Vice-Presidente do PMI RS.
Engenheiro Civil, PMP, PMO-CP, MBA em Gestão de Projetos e Lideranças/Estratégia, Processor de MBA em Gestão de Projetos.