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O futuro das Fintechs não está na tecnologia, está nos processos

20/10/2025
O futuro das Fintechs não está na tecnologia, está nos processos

Todo mundo fala sobre a tecnologia que impulsiona as Fintechs: aplicativos brilhantes, APIs abertas, blockchain, machine learning…Mas, a verdade incômoda é que a maioria delas não fracassa por falta de tecnologia, e sim por falta de processos.

Enquanto as Fintechs correram para inovar em produtos, deixaram de lado o mais importante: como operam, como tomam decisões e como aprendem. É aí que entra a Gestão por Processos (BPM), potencializada pela Inteligência Artificial, como a verdadeira vantagem competitiva no ecossistema financeiro digital.

A inovação tecnológica já não é um diferencial; é uma condição básica de entrada. O que realmente diferencia uma Fintech sustentável de uma efêmera é sua capacidade de desenhar, executar e aprimorar processos de ponta a ponta.

Um onboarding digital não é apenas uma tela bonita, é uma coreografia complexa de etapas interconectadas: verificação KYC (“Know Your Customer”), análise de crédito, detecção de fraude, conformidade regulatória e experiência do usuário. Cada uma dessas etapas exige coerência de dados, rastreabilidade e decisões automatizadas.

É nesse ponto que a Gestão por Processos se torna o motor invisível que sustenta a promessa de agilidade, eficiência e conformidade. Quando adicionamos a IA, o resultado é exponencial: processos que pensam, aprendem e agem.

Durante anos, a IA foi o “cérebro analítico” das Fintechs: detectando fraudes, personalizando ofertas ou ajustando riscos. Hoje, isso já não é suficiente. A nova fronteira é que a IA gerencie processos — não apenas os analise. Entramos na era do IA-Driven BPM, em que os algoritmos não se limitam a sugerir: eles tomam decisões, otimizam fluxos e executam tarefas sem intervenção humana.

Imagine um processo de microcrédito em uma Fintech:

  • Um agente de IA recebe a solicitação, verifica a identidade, consulta dados externos e decide aprovar ou rejeitar.
  • Outro agente revisa o cumprimento das normas em paralelo.
  • Um terceiro ajusta os fluxos para reduzir os tempos de resposta.

O resultado: uma operação autônoma, auditável e rastreável. Isso não é ficção científica — é a operacionalização da inteligência. O verdadeiro salto não está na automação, mas na autonomia operacional: processos que se autoajustam, detectam desvios e corrigem sua execução sem esperar por uma ordem humana.

Toda transformação precisa de uma bússola. É aqui que entra o Business Process Maturity Model (BPMM) que, ao ser combinado com IA, permite medir o quão preparada uma Fintech está para operar de forma inteligente e escalável.

Muitas Fintechs, embora tecnologicamente avançadas, possuem baixa maturidade processual: decisões tomadas de forma ad hoc, processos sem governança e pouca rastreabilidade. Aplicar BPMM + IA permite desenhar um roadmap de maturidade — quais processos digitalizar primeiro, quais merecem inteligência autônoma e como equilibrar a relação entre humanos e máquinas.

Por exemplo, uma Fintech pode automatizar o onboarding e o scoring, mas ainda depender de pessoas para detectar incidentes. Ao atingir níveis mais altos de maturidade, a IA passa a antecipar gargalos e otimizar decisões sem intervenção manual. As Fintechs que dominarem essa abordagem conquistam algo que nem o capital nem a tecnologia podem comprar: resiliência operacional inteligente.

O cliente não busca um aplicativo mais bonito — busca resultados imediatos e experiências sem fricção. E isso só é possível quando a IA se integra aos processos, não como um complemento, mas como o cérebro operacional da organização. As Fintechs mais avançadas criam camadas de Process Intelligence que monitoram e otimizam continuamente a execução de seus processos-chave.

  • A IA detecta que o tempo de aprovação de empréstimos aumentou 15% nesta semana.
  • Analisa as causas: congestionamento nas verificações externas.
  • Sugere uma ação: reconfigurar o fluxo ou trocar o provedor da API.
  • Se tiver autonomia suficiente, executa a melhoria automaticamente.

Isso é BPM Inteligente, isso é transformar dados em ação em tempo real. Nesta nova era, são os processos que pensam — e a IA lhes dá sentido, contexto e capacidade de decisão.

O grande desafio não será programar a IA, e sim governar seu comportamento dentro dos processos.

Quem responde quando uma IA aprova um empréstimo de forma incorreta? Como auditar decisões algorítmicas? Como manter ética, transparência e conformidade em processos autônomos?

É aqui que o BPM volta a ser o grande aliado: ele define papéis, indicadores, responsabilidades e regras de melhoria contínua. O BPM não compete com a IA — ele a transforma em estratégia. Processos orientados por dados, adaptativos e auditáveis, que garantem eficiência sem sacrificar o controle.

As Fintechs nasceram para quebrar as regras do sistema financeiro, mas sua consolidação dependerá de algo além da tecnologia: dependerá de maturidade processual e inteligência operacional.

A Gestão por Processos traz estrutura, coerência e governança; a Inteligência Artificial traz velocidade, aprendizado e autonomia. Juntas, redefinem o que significa ser uma organização ágil, confiável e escalável.

Porque, no fim das contas: o dinheiro não segue a tecnologia — segue os processos.

E são os processos inteligentes que definirão o futuro do dinheiro.

 

Autor: Pedro Robledo – Especialista em BPM

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