Artigos

PMBOK 8: o equilíbrio entre método, valor e prática

02/12/2025
PMBOK 8: o equilíbrio entre método, valor e prática

Estive no lançamento oficial do PMBOK 8 durante o PMI Global Summit 2025, em Phoenix, Arizona, e pra mim esta edição representa um marco de maturidade para a gestão de projetos. Ela não substitui o PMBOK 7 e nem retorna ao 6 — ela integra e amplia ambos, oferecendo clareza e aplicação em qualquer contexto, que seja orientado a valor.

Bernardo Zurli, vice-presidente do PMI RS

O PMBOK 7 foi uma mudança necessária, para que o paradigma da abordagem prescritiva e cascata evoluísse. Mas, gerou também dúvidas sobre como combinar os princípios e domínios com o trabalho operacional do dia a dia, que antes se tinha claro (apesar de muitos acharem burocrático). Tanto que, posteriormente ao lançamento, o PMI lançou o Guia de Processos para integrar ao guia.

O PMBOK 8 aborda esse ponto, indicando como usar o sistema de entrega de valor na prática (dia-a-dia), sem perder a adaptabilidade e visão holística em diferentes contextos.

1) O PMBOK 8 – A transição

O PMBOK 8 mantém os pilares conceituais da 7ª edição, especialmente princípios, valor e domínios, mas devolve clareza operacional ao integrar processos e áreas de foco. Não é um rollback — e sim um avanço integrador na minha opinião.

Uma das mudanças mais relevantes é a definição atualizada de Projeto. Pode parecer bobagem, mas quando na definição, colocamos a palavra ‘’valor’’, muda tudo:

“Projeto é uma iniciativa temporária, em um contexto único, realizada para criar valor.”

Essa ênfase consolida a transição da profissão: deixamos de falar apenas em escopo, prazo e custo, e passamos a medir impacto, propósito e benefício.

Relembrando, o PMBOK 7 introduziu o Sistema de Entrega de Valor, descrevendo a lógica de geração de valor na organização. O PMBOK 8 agora mostra o como aplicar:

  • conecta visão, missão e estratégia, portfólio de projetos, operações e produtos
  • orienta decisões com foco no que realmente cria valor.

Em síntese: a ponte entre estratégia → portfólio → execução → benefícios agora está clara.

2) Arquitetura do PMBOK 8: princípios, domínios e áreas de foco

A estrutura final combina coerência e aplicabilidade, ao juntarmos a análise desses três temas fundamentais – Princípios, Domínios e Áreas de Foco.

6 Princípios Fundamentais

  1. Visão holística
  2. Foco em valor
  3. Qualidade embutida
  4. Liderança responsável
  5. Sustentabilidade integrada
  6. Cultura empoderada

7 Domínios de Desempenho

  • Governança
  • Escopo
  • Cronograma
  • Finanças
  • Partes interessadas
  • Recursos
  • Riscos

Os domínios agora incluem processos operacionais, permitindo visualizar o fluxo de gestão completo em cada área.

5 Áreas de Foco (antigos grupos de processos)

Voltaram como âncoras estruturantes:

  • Início
  • Planejamento
  • Execução
  • Monitoramento e Controle
  • Encerramento

São organizadores flexíveis, aplicáveis em qualquer contexto. Os 49 processos agora viraram 40, integrados aos domínios e não mais com listas lineares e receitas de bolo. Funcionam como orientações práticas para quem precisa traduzir princípios em atividade.

3) O foco central: VALOR como métrica principal

O PMBOK 8, alinhado à pesquisa de Project Success conduzido pelo próprio PMI, reforça que o sucesso do projeto está em entregar valor que exceda esforço e custo. Isso se expressa em três elementos-chave:

3.1 – Estrutura Analítica de Valor (EAV / Value Breakdown Structure)

Ferramenta que conecta:

  • valor desejado
  • escopo do produto
  • escopo do projeto (EAP)

Pra mim, essa integração será um divisor de águas para PMOs e portfólios atuantes hoje. Talvez a nova certificação do PMI que está vindo esteja, inclusive, ligada a isso. Aliás, ultimamente estão pipocando discussões sobre PMOs, VMOs e até xMOs sem que se tenha claro, por alguns, a real diferença entre essas estruturas.

3.2 –  Qualidade incorporada e sustentabilidade

A sustentabilidade veio no novo PMBOK para ficar. Alinhada com a aproximação do PMI ao GPM, integra essa parte ao sistema, não em áreas isoladas. A qualidade passa a ser foco em tudo que se faz para gerar valor.

3.3 –  Integração explícita da Inteligência Artificial

Abordada no apêndice 2 do guia, a IA deixa de ser tendência e passa a ser parte das práticas recomendadas, especialmente em:

  • planejamento
  • análise de riscos
  • estimativas
  • comunicação
  • documentação automatizada
  • apoio à decisão

4) Comparação resumida

A síntese entre as edições está mais clara:

O PMBOK 8 organiza, integra e clarifica.

5) Apêndices estratégicos

Ampliando a visão do guia, o PMBOK 8 traz alguns apêndices extremamente relevantes:

PMO

Conecta o guia de PMO lançado ano passado (2024) e mostra como o PMO se conecta ao Sistema de Entrega de Valor, à governança e aos domínios.

Inteligência Artificial

Um dos grandes avanços. Dá orientações claras sobre como usar IA em todas as etapas do ciclo de projeto, com atenção a ética, dados, qualidade e automação.

Procurement (Compras/Aquisições)

Unifica práticas de compras, contratos e fornecedores, com foco em governança, contexto, riscos contratuais e integração com os próprios domínios.

Conclusão: projetos como instrumentos de transformação

Claro que ainda preciso de tempo para estudar a fundo o novo guia. Mas, em minhas primeiras impressões, me parece que o PMBOK 8 reforça que projetos não são apenas entregas — são mecanismos estruturados para gerar valor. Ele nos posiciona como profissionais capazes de conectar estratégia, cultura, propósito e execução.

Como consultor em PMO/Portfólio de Projetos, vejo esta edição como a primeira que realmente equilibra a teoria com a prática e nos convida a evoluir como profissionais que entregam valor, e não apenas gerentes de atividades e fiscais de avanço.

 

Autor: Bernardo Zurli Barreira – Vice-Presidente do PMI RS.

Engenheiro Civil, PMP, PMO-CP, MBA em Gestão de Projetos e Lideranças/Estratégia, Processor de MBA em Gestão de Projetos.

compartilhe
o conteúdo

Inscreva-se em nossa newsletter